segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

A ciência da generosidade

Quem exercita a bondade tem mais saúde, é mais feliz e vive mais tempo!

Stephen Post tinha apenas 16 anos quando escreveu o seu primeiro ensaio sobre altruísmo. Hoje é professor de Bioética, Filosofia e Religião na Faculdade de Medicina da Universidade de Case Western Reserve, nos Estados Unidos da América, e dirige o Institut for Research on Unlimeted Love, dedicado à investigação sobre a interacção entre a ciência, a espiritualidade, a saúde e o amor.
Numa entrevista, partilhou connosco as mais surpreendentes conclusões dos estudos realizados nesta área, divulgadas no seu livro, co-assinado pela jornalista Jill Neimark e recentemente lançado em Portugal, «Porque acontecem coisas boas às pessoas boas». Surpreenda-se com o poder da benevolência. O seu instituto já financiou mais de 70 estudos. Que investigações se destacam?

Um estudo, realizado desde 1920, que seguiu estudantes durante décadas, verificou que os que sentiam vontade de servir os outros eram mais felizes durante toda a sua vida e menos propensos a sofrer de depressão e doenças físicas, vivendo em média mais anos.
Assim, uma vida generosa é tão boa para nós como para os que nos rodeiam. Destaco também um outro estudo que demonstrou que os alcoólicos que ajudam outras pessoas com o mesmo problema têm 40 por cento de hipóteses de o ultrapassar, um ano depois, enquanto os que não o fazem apresentam apenas 22 por cento de taxa de sucesso.

O que define um verdadeiro altruísta?

Os altruístas são pessoas que essencialmente se preocupam com os outros, o que não tem necessariamente de envolver sacrifício pessoal. Alguns ajudam os outros por puro dever, outros porque ocupam uma posição ou desempenham um papel que requer esta característica (médicos, bombeiros).
Mas eu interesso-me particularmente pelas pessoas cujo altruísmo radica na compaixão, na empatia e no afecto. São pessoas que não são apenas altruístas, mas calorosamente generosas, que oferecem afectos.
Descrevo-as como indivíduos alegres, à prova de emoções destrutivas, como hostilidade e amargura, que demonstram uma cordialidade que os outros consideram notável
.


O altruísmo está conotado à imagem de um soldado que dá a vida para salvar o colega de armas, enquanto o amor está conotado com toque, expressão facial e afecto e é sobre este que escrevo.

O nosso grau de generosidade é de, alguma forma, condicionado pela nossa herança genética?

Sim, os genes pesam, mas mais importante é o grau de empatia e compaixão que existe na nossa família, a intensidade da ligação aos nossos pais, mentores, que nos dão bons exemplos, e instituições, como as escolas, em que o acto de dar é exaltado e recompensado. Contudo, mesmo que cresçamos sem receber amor, mais tarde podemos superar a sua falta.
Os genes importam, assim como as relações, mas também existe o factor escolha. Face às dificuldades podemos tornar-nos mais amargos ou então melhores pessoas e cooperar com os desafios recorrendo ao amor.
Existe um elemento genético que, em parte, determina quem, face aos eventos mais traumáticos da vida, irá sofrer de stress pós-traumático ou crescer ao nível da compaixão.

O que acontece em termos neurológicos quando somos generosos?

A imagem de ressonância magnética demonstra que basta pensarmos que vamos dar algo a outra pessoa para activar a área emocional mais profunda do cérebro (sistema mesolímbico) que está associada à alegria e promove a produção de substâncias que nos fazem sentir bem. Nós estamos programados para sentirmos alegria quando somos generosos.

O nosso nível de felicidade pode então ser determinado pelo nosso nível de generosidade...
Claramente. Num recente estudo, realizado pela Universidade de Harvard, foram dados 20 dólares a estudantes e foi-lhes pedido que o gastassem consigo ou com outras pessoas.
Os que fizeram a segunda opção relataram-se muito mais felizes.
A felicidade resulta principalmente da nossa contribuição para os outros.

As mulheres são mais generosas do que os homens?

Sim, embora esta possa ser uma generalização pouco pertinente em termos individuais. Penso que as mulheres, ao longo da evolução humana, desenvolveram mais as suas capacidades empáticas do que o sexo oposto, até porque estas são essenciais para o sucesso da educação de uma criança. No entanto, existem também muitos homens tão generosos quanto elas.

Acredita que «nos podemos descobrir ao entregar-nos aos outros». Porquê?

No egoísmo, encontramos a mais profunda futilidade, mesmo que durante algum tempo pareçamos estar a prosperar. Quando vivemos tanto ou mais para outros como para nós, descobrimos uma vida muito mais profunda e feliz e também tendemos a sentir-nos menos stressados e propensos à depressão.

E como podemos estimular os nossos filhos a serem pessoas generosas?

Acima de tudo, sendo pais carinhosos e modelos de acções e emoções. Os estudos demonstram que famílias em que existe uma elevada empatia geram crianças bondosas.
Portanto, a generatividade de que falávamos tem início numa idade muito precoce. Os pais podem também estimular esta característica envolvendo os seus filhos em acções generosas e quando as crianças se comportam de forma egoísta não as repreender severamente mas antes encorajá-las a reflectir sobre as suas acções.

No seu dia a dia, o que faz para pôr em prática o que escreve?

Estou muito consciente de que a hostilidade e amargura afectam a minha saúde física e mental e sei que não gasto mais tempo ou energia se for bom para os outros em vez de desagradável.
Faço questão de dar algo, por muito pequeno que seja, a toda a gente com quem me cruzo, mesmo que isso signifique apenas cumprimentar o outro, porque quero que essa pessoa sinta que tem importância. Não me importo com a reciprocidade, em parte porque isso pode ser frustrante.
Também medito e rezo pelos outros e acredito que o amor é a força mais poderosa do universo.

Texto: Nazaré Tocha, in Saber Viver

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