terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Hospitais atendem cada vez mais jovens viciados em videojogos

Está a aumentar o número de jovens portugueses viciados em videojogos que apresentam problemas semelhantes à dependência de drogas.


O Serviço Nacional de Saúde (SNS) já tem unidades especializadas para estes casos.



Núcleo de Utilização Problemática de Internet (NUPI), integrado na ala psiquiátrica do Hospital de Santa Maria, em Lisboa,  foi criado, em 2014, para dar resposta a estes casos de jovens que procuram apoio médico para lidar com o vício dos videojogos.

O diário realça que há cada vez mais jovens a procurarem os hospitais por causa deste problema.
No NUPI, só ao longo de 2016, foram efectuadas 160 consultas de jovens que nem à casa de banho vão durante 20 horas, para não perderem a posição no jogo, ou que nem dormem...
A maior parte dos casos envolvem estudantes universitários do sexo masculino.
No setor privado, a clínica Villa Ramadas, em Alcobaça, tratou 20 jovens, nos últimos seis anos, com idade média a rondar os 17 anos, segundo realça o JN, frisando que apresentavam “sintomas relacionados com depressão e ansiedade”.
O responsável pela Villa Ramadas revela ao diário que estes viciados em videojogos “chegam à clínica com um grau de destruição da vida ao nível dos danos causados pelo consumo de uma substância” como a heroína ou o álcool.
O Instituto de Apoio ao Jogador (IAP) tem recebido, “ultimamente, mais pedidos devido aos videojogos”, sublinha no JN Pedro Hubert, que faz parte desta entidade.
“Os jogadores online a dinheiro, por causa das apostas, já são tantos quanto os jogadores de casino”, constata ainda Pedro Hubert.
ZAP // Daqui

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Os filhos não se "perdem" na rua, mas sim dentro de casa

Os filhos não se “perdem” na rua, mas sim dentro de casa
Os filhos não se “perdem” na rua. Na verdade, essa perda se inicia no próprio lar com o pai ausente, com a mãe sempre ocupada, com um acúmulo de necessidades não atendidas e frustrações não gerenciadas. Um adolescente se destrói depois de uma infância de desapegos e de um amor que nunca soube educar, orientar, ajudar.
Começaremos por deixar claro que sempre haverá exceções. Obviamente existem jovens com comportamentos desajustados que cresceram em lares onde há harmonia, e adolescentes responsáveis que conseguiram se distanciar de uma família disfuncional. Sempre há eventos específicos que escapam dessa dinâmica mais clássica onde o que acontece diariamente em uma casa marca irremediavelmente o comportamento da criança no exterior.

Na realidade, e por incrível que pareça, um pai ou uma mãe nem sempre acaba por aceitar esse tipo de responsabilidade. Na verdade, quando uma criança evidencia comportamentos agressivos na escola e o diretor entra em contato com os pais, é habitual que a família coloque a culpa no sistema, no próprio instituto e na comunidade escolar por “não saber educar”, por não pensar nas necessidades e por não aplicar as estratégias adequadas.

É certo que no que se refere à educação de uma criança, todos somos agentes ativos (escola, meios de comunicação, organismos sociais…), mas é a família que fará germinar no cérebro infantil o conceito de respeito, a raiz da autoestima ou a chama da empatia.
Propomos que você reflita sobre isso.
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Os filhos, o legado mais importante do nosso futuro

H. G. Wells disse uma vez que a educação do futuro andava de mãos dadas com a própria catástrofe. Em sua famosa obra “A máquina do tempo”, ele viu que no ano de 802.701 a humanidade se dividiria em dois tipos de sociedade. Uma delas, a que viveria na superfície, seriam os Elói, uma população sem escritura, sem empatia, inteligência ou força física.
Segundo Wells, o estilo educativo que predominava em sua época já apontava resultados nesta direção. O início das provas padronizadas, da competitividade, da crise financeira, do curto período de tempo dos pais para educar os filhos e da preocupação nula para incentivar a curiosidade infantil ou o desejo inerente por aprender faziam com que, no auge do século XX, o célebre escritor não augurasse nada de bom para as gerações futuras.
Não se trata de alimentar tanto pessimismo, mas de colocar sobre a mesa um estado de alerta e um sentido de responsabilidade. Por exemplo, algo que muitos terapeutas, orientadores escolares e pedagogos se queixam é da falta de apoio familiar que costumam encontrar na hora de fazer uma intervenção com aquele adolescente problemático, ou com aquela criança que apresenta problemas emocionais ou de aprendizagem.
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Quando não há uma colaboração real ou até mesmo quando um pai ou uma mãe tira a autoridade ou boicota o profissional, professor ou psicólogo, o que vai conseguir é que a criança, seu filho, continue perdido. Além disso, esse adolescente terá mais força para continuar desafiando e buscará na rua o que não encontra em casa, ou o que o próprio sistema educativo também não foi capaz de lhe dar.

Crianças difíceis, pais ocupados e emoções contrapostas

Há crianças difíceis e exigentes que gostam de agir como autênticos tiranos. Há adolescentes incapazes de assumir responsabilidades e que adoram ultrapassar os limites que os outros lhes impõem, aproximando-se, assim, da delinquência. Todos nós conhecemos mais de um caso assim, no entanto, temos que ter consciência de algo: nada disso é novo. Nada disso é culpa da internet, nem dos videogames, nem de um sistema educativo permissivo.


No final do dia, estas crianças mostram as mesmas necessidades e comportamentos de sempre, contextualizados em novos tempos. Por isso, a primeira coisa que devemos fazer é não patologizar a infância nem a adolescência. A segunda é assumir a parte da responsabilidade que cabe a cada um de nós, bem como educadores, profissionais da saúde, publicitários ou agentes sociais. A terceira, mas não menos importante, é entender que as crianças são, sem dúvida, o futuro da Terra, mas antes de mais nada, são filhos de seus pais.
A seguir, vamos refletir sobre alguns aspetos importantes.
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Os ingredientes da verdadeira educação

Quando um professor chama uma mãe ou um pai para advertir sobre o mau comportamento de um filho, a primeira coisa que a família sente é que estão colocando em causa o amor que eles sentem pelos seus filhos. Isso não é verdade. O que acontece é que às vezes esse afeto, esse amor sincero, se projeta de forma errônea.
  • Amar um filho não é satisfazer todos os seus caprichos, não é abrir todas as fronteiras para ele nem evitar dar respostas negativas. O amor verdadeiro é o que guia, o que inicia desde bem cedo um sentido real de responsabilidade na criança, e que sabe gerir suas frustrações dando um “NÃO” a tempo.
  • A educação de qualidade sabe sobre emoções e entende sobre paciência. A criança exigente não detém seus comportamentos com um grito ou com duas horas de solidão na própria casa. O que ela exige e agradece é ser atendida com palavras, com novos estímulos, com exemplos e com respostas a cada uma de suas ávidas perguntas.
Também temos que tomar consciência de que nesta época em que muitas mães e muitos pais são obrigados a cumprir jornadas de trabalho pouco ou nada conciliadoras com a vida familiar, o que importa não é o tempo real que compartilhamos com os filhos, mas sim a QUALIDADE desse tempo.
Os pais que sabem intuir as necessidades e as emoções, que estão presentes para guiar, orientar e para favorecer interesses, sonhos e expectativas, são os que deixam marcas e também raízes em seus filhos, evitando assim que essas crianças busquem tudo isso na rua.
Daqui - Imagens cortesia de A.Varela.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

"A vida não se remenda, emenda-se"


As aparências e mentiras com que, por vezes, somos tentados a esconder as feridas abertas das nossas fraquezas são remendos. 
Quando algo nos fere, rasga ou estraga, o importante é trabalhar nisso, com tudo o que resta, respeitando sempre a nossa integridade anterior e repondo-a na medida do possível. Sem ilusões e aceitando que todos somos frágeis e que, por isso, temos muitas cicatrizes... resultado de golpes que não conseguimos evitar ou de escaladas de violência que tomaram proporções maiores do que julgávamos.

É essencial que cada um de nós compreenda que a vontade de esquecer, disfarçar ou tapar as suas fraquezas com pedaços de vida que não é a nossa é um erro, enorme.

Nenhuma ferida se cura apenas por ser coberta, por vezes isso é apenas uma forma de a agravar. Emendar não é ocultar o defeito, é curá-lo. Dói, sempre e muito, mas vale a pena. Corrigir é superar-se a fim de ultrapassar o erro, assumindo-o e fazendo o necessário para o reparar em nós e naqueles a quem prejudicámos.

Remendar é misturar pedaços estranhos uns aos outros.

A vida é preciosa, íntegra e autêntica, apesar de todas as cicatrizes que são parte de nós, da nossa história e da nossa felicidade. Somos nós.

Aqueles que não assumem os erros próprios como seus e como parte do seu processo de aperfeiçoamento, de tantos remendos que colocam, chegam a um ponto em que já nem eles mesmos sabem quem são. Não têm emenda... são meros remendos em cima de remendos, já se acabaram... são apenas trapos sem história.

José Luís Nunes Martins e ilustração de Carlos Ribeiro - Daqui

«A ética é mais importante do que a religião», diz Sua Santidade o Dalai Lama


Sua Santidade o Dalai Lama, de 81 anos, é um dos principais líderes religiosos do mundo. No entanto, diz que a ética é mais importante do que a religião.

 Franz Alt, em Selecções do Reader's Digest, 2 de julho de 2015

USA SANDÁLIAS COMUNS, e o sorriso que lhe ilumina o rosto é prazenteiro. Tenzin Gyatso, o 14.º Dalai Lama, e eu já nos encontrámos mais de 30 vezes nos últimos 33 anos, e raramente entrevistei alguém tão empático. Ninguém ri mais do que ele. Segundo inquéritos, é a pessoa do mundo de quem mais gente gosta. A notícia não surpreende. «Não conheço nenhum inimigo», disse-me há mais de 20 anos. «Mas há pessoas que não conheço ainda.»

Apesar de a ocupação chinesa o ter for­çado a viver fora do Tibete desde 1959, não sente ódio pela China nem pelos seus líderes. Pelo contrário. «Claro que rezo pelos líderes comunistas em Pe­quim», afirma. Apesar da sua idade, o Dalai Lama acredita que ainda viverá o bastante para ver a resolução do con­flito que opõe a China ao seu Tibete natal.
Nos últimos anos, o Dalai Lama tem apelado cada vez mais insistentemente a uma ética que transcende a religião. Hoje, aos 80 anos, proclama uma visão que é seguramente original para um líder religioso: «A ética é mais importante do que a religião», afirma. «Não chegamos a este mundo como mem­bros desta ou daquela religião. Mas a ética é inata.»
Uma das suas principais certezas é a de que todos os seres humanos são iguais no que respeita à busca pela fe­licidade e ao desejo de evitar o sofri­mento.

Franz Alt: Depois do ataque terrorista em Paris, disse: «Há dias em que creio que seria melhor não existirem religi­ões!» O que pretendia dizer com isto?

Dalai Lama: É claro que o conhecimento e a prática da religião tem sido muito útil, mas atualmente já não basta, como mostram com cada vez maior clareza vários exemplos em todo o mundo. Isto é verdade para todas as religiões, incluindo o cristianismo e o budismo. Já se travaram guerras em nome da religião, inclusivamente «guerras santas». As religiões foram e continuam a ser intolerantes. É por isso que digo que no século XXI pre­cisamos de uma nova ética que trans­cenda as religiões. Mais importante do que a religião é a nossa espiritua­lidade humana elementar. É a predis­posição para o amor, para a bondade e para o afeto que todos possuímos, independentemente da religião que professamos. No meu ponto de vista, as pessoas podem viver sem religião, mas não conseguem viver sem valores, sem ética.

O que o leva a pensar que aquilo de que precisamos é de mais espiritua­lidade do que a que as religiões ditas tradicionais têm para oferecer?
Vivo há 56 anos no exílio, na Índia. É uma sociedade secular que vive se­gundo uma ética secular. Mahatma Gandhi era profundamente religioso, mas também possuía um espírito secu­lar. Tinha uma enorme admiração por Jesus e pelo pacifismo do Sermão da Montanha. É ele o meu modelo, por­que personificou a tolerância religiosa. Esta tolerância está profundamente enraizada na Índia. Com muito poucas exceções encontramos ali não apenas hindus, muçulmanos, cristãos e siques a viver em paz, mas também jainistas, budistas, judeus, agnósticos e ateus.
Sei que têm existido casos reiterados de violência pontual. Mas é errado fa­zer generalizações. No seu todo, a so­ciedade indiana é pacífica e harmo­niosa. Todas as confissões religiosas defendem o princípio indiano antigo da não violência, ahimsa, com o qual Gandhi teve tanto êxito político. É o alicerce da coexistência pacífica. Essa é uma ética prática secular que trans­cende todas as religiões. O mundo de hoje faria bem em imitá-lo!

Entre os seis mil milhões de «crentes» no mundo, são muitos os que não le­vam a sério a sua própria religião.
Infelizmente, entre esses seis mil mi­lhões estão muitas pessoas corruptas, que apenas perseguem os seus pró­prios interesses. Mas só existirá mais paz externa na Terra quando existir mais paz interna. E isto é verdade para todos os conflitos de hoje – na Ucrâ­nia, no Médio Oriente, no Afeganistão, na Nigéria. Em quase toda a parte, o fundamentalismo religioso é uma das causas da guerra. Sabemos muito bem que arriscar uma guerra nuclear seria comparável a um suicídio coletivo. Só isto mostra o quanto estamos depen­dentes uns dos outros.
A mais moderna investigação neu­robiológica recente sugere veemente­mente que os comportamentos altruís­tas são mais gratificantes que os egoís­tas. As pessoas não têm de ser egoístas: podem com a mesma facilidade ser altruístas e orientar as suas atividades para o bem-estar dos outros. O altruís-mo faz-nos mais felizes!
A felicidade não é apenas uma coin­cidência: é uma capacidade que todo e qualquer indivíduo tem à sua dispo­sição. Toda a gente pode ser ou tornar­-se feliz. A investigação moderna diz­-nos quais os fatores que influenciam a felicidade. Passo a passo, podemos transformar os fatores que militam contra a felicidade. Isto é verdade para a totalidade da sociedade. O objetivo de uma ética secular é libertar-nos do sofrimento imediato e a longo prazo e desenvolver a capacidade de apoiar os outros na busca da felicidade. Um dos aspetos da compaixão é a vontade es­pontânea de agir em prol do bem-estar dos outros.

Atribui uma grande importância à moderna investigação sobre o cérebro. Porquê?
O nosso cérebro é um órgão de apren­dizagem. A neuropsicologia diz-nos que podemos treinar o cérebro como treinamos os músculos. Desta forma, podemos ser destinatários conscientes do bom e do bem e, com isso, influen­ciar positivamente o nosso cérebro e ultrapassar o que é negativo. Com a ajuda da mente e do espírito, podemos mudar o nosso cérebro para melhor. Isto é um progresso revolucionário.
Graças a este progresso estamos agora mais seguros de que a ética, a compaixão e o comportamento social são coisas com as quais nascemos, enquanto a religião é algo que nos é incutido. A conclusão é que a ética é mais profunda e mais natural do que a religião.

Que perguntas devemos fazer-nos para desenvolver ainda mais a nossa capacidade de compaixão? 
Temos uma mente aberta ou fechada? Estamos a considerar a situação como um todo, ou a ver apenas um aspeto? Estamos a pensar e a agir holistica­mente? Olhamos genuinamente para as coisas com uma perspetiva de longo prazo, ou apenas de curto prazo? As nossas ações são verdadeiramente mo­tivadas por uma compaixão sincera? A nossa compaixão limita-se à família e aos amigos, porque nos conseguimos identificar com eles?
Precisamos de refletir, refletir, refle­tir. E de investigar, investigar, investi­gar. A ética tem principalmente que ver com a nossa condição espiritual, e não com a adesão formal a uma comu­nidade religiosa. Temos de ultrapassar as restrições autoimpostas e aprender a compreender as perspetivas dos ou­tros. No atual conflito da Ucrânia, isto significa que a Europa Oriental precisa da Europa Ocidental, e que a Europa Ocidental precisa da Europa Orien­tal. Por isso, falem uns com os outros! Percebam que vivemos numa época de globalização. O novo lema tem de ser: «Os vossos interesses são os nos­sos interesses.» O fundamentalismo é sempre prejudicial. As ideias de ontem não nos levam a lado nenhum. Espe­cialmente para as crianças, os adultos de amanhã, a ética é mais importante do que a religião.
As mudanças climáticas são outra coisa que apenas poderemos enfren­tar globalmente. Espero e rezo para que na próxima cimeira em Paris, da­qui a uns meses, esta verdade inegável produza finalmente resultados con­cretos. Egoísmo, nacionalismo e vio­lência são o caminho errado. A ques­tão mais importante para um mundo melhor é: «Como é que podemos aju­dar-nos uns aos outros?»

A cada dia fazemos desaparecer 150 espécies de plantas e animais, atira­mos para o ar 150 milhões de tone­ladas de gases com efeito de estufa. O que é que uma ética secular pode fazer para parar isto? 
Consciência, educação, respeito, tole­rância, preocupação e não violência. No último século fizemos enormes progressos em termos materiais. Tudo considerado, foi uma coisa boa. Mas este progresso também levou ao mal atroz que estamos a fazer ao ambiente. No século XXI temos de aprender, cul­tivar e aplicar valores interiores a todos os níveis.
Independentemente de acredi­tarmos ou não numa religião, todos temos em nós esta fonte de ética pri­mitiva, elementar, humana. Temos de cultivar esta fundação ética. Ajudar­-nos-á a preservar o ambiente. Isto é religião prática e ética prática.
Há duas formas de olhar para a na­tureza humana. Uma delas diz que, por natureza, os seres humanos são violentos, implacáveis e agressivos. A outra forma de ver é que somos na­turalmente sintonizados para a gene­rosidade, harmonia e viver em paz. Esta segunda forma é a minha. Desse modo, não considero a ética uma co­leção de mandamentos e proibições a que devamos aderir, mas um impulso natural interior, que nos inspira a pro­curar a felicidade e a satisfação para nós e para os outros. O desejo simples que me inspira é contribuir para o bem da humanidade e do mundo vivo.
A ética educacional, a partir de cerca dos 14 anos, é mais importante do que a religião. A educação muda tudo. As pessoas são capazes de aprender. Na Alemanha podemos ver isto pela queda do Muro de Berlim. Testemu­nhar aquilo foi para mim uma experiência inesquecível. Outro caso é o das políticas da União Europeia depois da Segunda Guerra Mundial. Hoje, an­tigos inimigos trabalham juntos para construir e partilhar uma Europa pa­cífica. Por esse facto, a União Europeia até recebeu o Prémio Nobel da Paz. E muito bem!

O que pode cada um de nós fazer para tornar o mundo um lugar mais pací­fico e melhor? 
Se queremos fazer do mundo um lugar melhor, então também nós próprios temos de nos tornar melhores. Não há um caminho fácil. Primeiro que tudo temos de ver os nossos inimigos como seres humanos. No Sermão da Montanha, Jesus chama a isto «amar o teu inimigo». No nosso melhor in­teresse, devemos fazer tudo o que nos for possível para garantir que todos os seres vivos podem prosperar. Para isso, precisamos de ensinar o espírito e de educar o coração.
Depois de 1945, a União Europeia escolheu o caminho certo e garantiu a cooperação entre antigos inimigos. As­sim, os inimigos tornaram-se amigos. Isto só foi possível porque milhões de pessoas conscientemente deixaram de trilhar aquele caminho.
O verdadeiro inimigo é o inimigo interior, não o exterior. As inimizades externas nunca duram, e a inimizade entre China e Tibete não é exceção. Se respeitarmos os nossos inimigos, um dia eles poderão tornar-se nossos amigos.
É por isto que a minha adesão à não violência é inabalável. Essa é uma forma inteligente de amarmos os nos­sos inimigos. A meditação intensa diz­-nos que os inimigos podem tornar­-se os nossos melhores amigos. Desta forma, podemos atingir maior sereni­dade, maior compaixão e maior pers­picácia. Então teremos uma verdadeira hipótese de fazer do século XXI um sé­culo de paz, um século de diálogo e um século de humanidade responsável, preocupada e compassiva.
É nisto que tenho esperança, é para isto que rezo.


Dalai Lama: chegou a hora de uma espiritualidade e ética que estejam além da religião

Trecho do livro Beyond Religion (2011), em que o Dalai Lama explica sua proposta de ética secular -- que basicamente é a mesma aqui de nossa Ação para Felicidade, movimento do qual ele é o patrono:

«Apesar de avanços tremendos em tantas áreas, hoje há ainda grande sofrimento, e a humanidade continua a enfrentar dificuldades e problemas. Enquanto nas regiões mais prósperas do mundo as pessoas desfrutam de estilos de vida com consumo refinado, ainda há incontáveis milhões de pessoas cujas necessidades básicas não são atendidas. Com o fim da Guerra Fria, a ameaça da destruição nuclear global recuou, mas muitos continuam a enfrentar o sofrimento e tragédia de conflitos armados. Em muitas áreas também, pessoas têm que lidar com problemas ambientais que ameaçam seu sustento ou algo pior. Ao mesmo tempo, muitos outros estão lutando para sobreviver diante da desigualdade, corrupção e injustiça.

Esses problemas não se limitam aos países em desenvolvimento. Nos países mais ricos também há muitas dificuldades, incluindo problemas sociais amplamente disseminados: alcoolismo, abuso de drogas, violência doméstica, desagregação familiar. As pessoas estão preocupadas com seus filhos, sua educação e o que o mundo reserva para eles.

Agora também temos que reconhecer a possibilidade de que nós humanos estamos danificando o planeta de um modo que não terá mais volta, uma ameaça que cria ainda mais medo. E todas as pressões da vida moderna trazem junto estresse, ansiedade, depressão e cada vez mais solidão. Como resultado, em todos lugares que vou, as pessoas estão reclamando. Mesmo eu me pego reclamando de vez em quando!

É bem óbvio que alguma coisa está perigosamente faltando no modo como nós humanos estamos fazendo as coisas. Mas o que é que está faltando? O problema fundamental, acredito, é que em todos os níveis estamos dando atenção demais para os aspectos externos e materiais da vida, enquanto negligenciamos a ética moral e os valores internos.

Por valores internos me refiro às qualidades que todos apreciamos nos outros, e sobre os quais todos temos um instinto natural, herdado em nossa natureza biológica, como animais que sobrevivem e prosperam somente em um ambiente de cuidado com o outro, afeição e bom coração — em uma única palavra: compaixão.

A essência da compaixão é um desejo de aleviar o sofrimento dos outros e promover seu bem-estar. Esse é o princípio espiritual à partir do qual todos os outros valores internos positivos surgem. Todos nós apreciamos nos outros as qualidades internas da gentileza, paciência, tolerância, perdão e generosidade; e do mesmo modo todos temos aversão a expressões de ganância, maldade, ódio e intolerância. Então, a promoção ativa das qualidades internas positivas do coração humano, que surgem de nossa disposição interna em direção à compaixão, e o aprendizado sobre como combater nossas tendências mais destrutivas serão apreciados por todos. E os primeiros beneficiários de tal fortalecimento dos valores internos serão, sem dúvida, nós mesmos. Ignoramos nossas vidas interiores sob nosso próprio risco, e muitos dos maiores problemas que temos hoje no mundo são resultado de tal negligência.

Então, o que faremos? Para onde devemos nos voltar em busca de ajuda? A ciência, apesar de todos os benefícios que trouxe ao nosso mundo externo, ainda não forneceu o embasamento científico para o desenvolvimento das fundações da integridade pessoal — os valores humanos internos básicos que apreciamos nos outros e que, se cultivássemos em nós mesmos, seria ótimo.

Talvez precisemos buscar valores internos na religião, como as pessoas têm feito por milênios? Certamente a religião ajudou milhões de pessoas no passado, ajuda milhões hoje e continuará a ajudar milhões no futuro. Mas, apesar de todos os benefícios ao oferecer orientação moral e significado na vida, no mundo secular atual a religião sozinha não é mais algo adequado como uma base para a ética. Uma razão para isso é que muitas pessoas não mais seguem uma religião em particular.

Outro motivo é que, com as pessoas do mundo se tornando cada vez mais intimamente interconectadas em uma era de globalização e sociedades multiculturais, a ética baseada em uma religião específica teria apelo apenas para alguns de nós; ela não seria importante para todos. No passado, quando as pessoas viviam em relativo isolamento umas das outras — como nós tibetanos vivemos bem felizes por muitos séculos, atrás de nossa muralha de montanhas — o fato de alguns grupos terem uma ética baseada na religião não apresentava nenhuma dificuldade. Hoje, contudo, qualquer resposta para o problema de nossa negligência com os valores humanos, que se baseie em uma religião, jamais será universal, portanto será inadequada.

O que precisamos hoje é uma abordagem para a ética que não dependa da religião e que possa ser igualmente aceitável por crentes e descrentes: uma ética secular.

Essa declaração pode parecer estranha vinda de alguém que desde muito cedo vive como um monge em mantos. No entanto, não vejo nenhuma contradição aqui. Minha fé me força a me esforçar pelo bem e benefício de todos os seres sencientes; e estender-me além de minha própria tradição, em direção às pessoas de outras religiões ou de nenhuma, está totalmente de acordo com isso.

Estou confiante que é tanto possível quanto valioso tentar uma nova abordagem secular para a ética universal. Minha confiança vem da convicção de que todos nós seres humanos basicamente temos uma inclinação ou disposição para o que percebemos como bom. O que quer que façamos, fazemos porque pensamos que haverá algum benefício. Ao mesmo tempo, todos apreciamos a bondade dos outros. Somos todos, por natureza, orientados em direção aos valores humanos básicos do amor e compaixão. Todos preferimos o amor dos outros do que seu ódio. Todos preferimos a generosidade dos outros do que sua mesquinharia. E quem entre nós não prefere tolerância, respeito e perdão por nossas falhas do que intolerância, desrespeito e ressentimento?

fbNessa visão, tenho a firme opinião de que temos ao nosso alcance um caminho e um modo para fundamentar valores internos que não contradizem nenhuma tradição religiosa e, ainda assim, de modo crucial, não dependem de religião.

Devo deixar claro que minha intenção não é ditar valores morais. Fazer isso não teria nenhum benefício. Tentar impor princípios morais à partir de fora, impô-los com ordens, jamais será eficaz. Em vez disso, convoco cada um de nós para chegarmos ao nosso próprio entendimento sobre a importância dos valores internos. Porque são esses valores que são a fonte tanto de um mundo eticamente harmonioso, quanto do nível individual da paz de espírito, confiança e felicidade que todos procuramos.

Obviamente que todos as religiões principais do mundo, com sua ênfase no amor, compaixão, paciência, tolerância e perdão, podem e, de fato, promovem valores humanos. Mas a realidade do mundo hoje é que basear a ética na religião não é mais adequado. É por isso que acredito que chegou a hora de encontrarmos uma maneira de pensar sobre espiritualidade e ética que esteja além da religião.

… a mudança efetiva da sociedade só virá através do esforço dos indivíduos: uma parte-chave de nossa estratégia para lidar com esses problemas deve ser a educação da próxima geração. … tenho esperança de que chegará o tempo em que possamos tomar como garantido o fato de que as crianças aprenderão, como parte do currículo escolar, sobre o caráter indispensável de valores como amor, compaixão, justiça e perdão.

junte-se… Para criarmos esse mundo melhor, portanto, que todos nós — idosos e jovens, não como membros deste ou daquele país, desta ou daquela fé, mas simplesmente como membros desta grande família humana de sete bilhões de pessoas — nos esforçemos juntos com visão, coragem e otimismo. Este é meu humilde apelo.

Dentro da escala temporal do cosmos, a vida humana não é mais que um minúsculo piscar. Cada um de nós é um visitante neste planeta, um convidado, que tem um tempo limitado para ficar. Que tolice maior haveria do que gastar esse curto tempo de modo solitário, infeliz e em conflito com nossos visitantes companheiros? Muito melhor, certamente, é usar nosso curto tempo buscando uma vida significativa, enriquecida pelo sentimento de conexão e serviço para os outros.

Até agora, do século 21 apenas uma década se foi; a maior parte ainda está por vir. É minha esperança que este seja um século de paz e de diálogo — um século em que uma humanidade mais cuidadosa, responsável e compassiva vai emergir. Esta também é minha prece.»  Daqui

Santa Sé sobre diálogo inter-religioso: não tolerância, mas irmandade

O papel do diálogo é estratégico a todos os níveis: diplomático, entre credos religiosos e no plano intercultural. Em particular, o diálogo entre tradições religiosas pode contribuir notavelmente para plasmar a consciência humana. Foi o que afirmou o observador permanente da Santa Sé no escritório da ONU e em outras organizações internacionais em Genebra, Suíça, D. Ivan Jurkovič (na foto), num pronunciamento a 10 de fevereiro de 2017, no encontro «2.º Diálogo sobre a Fé, construção da paz e desenvolvimento», promovido pelas Nações Unidas e pela Organização da Cooperação Islâmica.

Rádio Vaticana, 10 de fevereiro de 2017

Amizade fraterna e harmonia sejam pontes entre religiões
No início do seu discurso, o arcebispo esloveno recordou o encontro inter-religioso realizado a 2 de outubro de 2016 na mesquita Heydar Aliyev em Baku, no Azerbaijão, com o xeque dos muçulmanos do Cáucaso e com representantes das outras comunidades religiosas do país. «É um grande sinal encontrar-nos em amizade fraterna neste lugar de oração, um sinal que manifesta aquela harmonia que as religiões juntas podem construir, a partir das relações pessoais e da boa vontade dos responsáveis», afirmara o Papa Francisco naquela ocasião.

Não tolerância, mas irmandade
Efetivamente, o nosso terreno comum não é a simples tolerância, porque esta tem um significado negativo, disse o representante vaticano. As relações entre credos religiosos deveriam ser baseadas no conceito mais dinâmico da irmandade. Seremos responsáveis não somente pelas ações que empreenderemos, mas também por aquelas que não tomaremos. A harmonia não deve limitar-se a uma mera convivência pacífica. O seu verdadeiro sentido é o enriquecimento recíproco, explicou D. Jurkovič.

A paz é uma conquista dinâmica
Também a paz deve ser vista com uma conotação positiva e dinâmica: a paz não significa simplesmente reconhecer o status quo, mas é uma contínua e construtiva melhora da nossa situação como família humana. 
Ademais, uma paz baseada no medo e na dissuasão não pode ser considerada uma paz verdadeira. Referindo-se ao discurso que o secretário das Relações com os Estados, D. Paul Richard Gallagher, fez a 30 de janeiro passado em Hiroshima às autoridades civis e religiosas, o prelado recordou a ameaça das armas nucleares. Não podemos aceitar que estas armas mantenham a estabilidade mundial mediante, porém, o equilíbrio do terror, ressaltou.

Na origem dos conflitos, uma visão limitada da pessoa humana
O diálogo inter-religioso e o empenho de comum acordo são cruciais para gerir eficazmente vários problemas globais, entre os quais os que estão relacionados com os direitos humanos, às migrações, às mudanças climáticas e à proteção do Ambiente.

Além disso, não se deve ceder à tentação de ler as situações de tensão mediante a visão do confronto de civilização. Essa interpretação tem um impacto negativo nas religiões. Mas na origem de todas essas situações dramáticas encontra-se uma visão limitada da pessoa humana que abre o caminho para a difusão de injustiça e desigualdade, determinando desse modo situações de conflito, ponderou o representante da Santa Sé.

Paz e justiça nascem nos corações e nas mentes
A busca da paz e da justiça deve ter início nas nossas mentes e nos nossos corações: as religiões são chamadas a “edificar a cultura do encontro e da paz, feita de paciência, compreensão, passos humildes e concretos”, afirmara o Papa Francisco no referido encontro inter-religioso de 2 de outubro.

«A fraternidade e a partilha que desejamos fazer crescer não serão apreciadas por quem quer aumentar divisões, intensificar tensões e obter ganhos de contraposições e contrastes», acrescentara o papa. «Porém, são evocadas e esperadas por quem deseja o bem comum.»

A não-violência modela sociedades pacificadas e reconciliadas
Em muitas partes do mundo, a começar pelo Médio Oriente – disse em seguida D. Jurkovič –, uma abordagem que preveja a construção da paz mediante o estilo da não-violência é hoje tão necessária não somente para acabar com o conflito sírio, mas também para promover sociedades plenamente reconciliadas e para renovar a pacífica convivência civil.

O diplomata vaticano acrescentou que o Papa Francisco fez do diálogo inter-religioso uma das suas prioridades. Durante a viagem à República Centro-Africana, encontrando-se com muçulmanos, católicos e protestantes, o Santo Padre recordou, entre outras coisas, que a religião não divide as pessoas, mas, sobretudo, une-as.

Manipulação da religião pode acabar em violências e conflitos
As comunidades religiosas e étnicas jamais devem tornar-se um instrumento de lógicas geopolíticas regionais e internacionais, ressaltou o arcebispo.

Na carta de 2015 aos bispos da Nigéria, o Papa Francisco ressalta que quando inocentes são assassinados em nome de Deus, a religião não deve ser chamada à razão, mas a sua manipulação para outros fins.

Na sua recente viagem apostólica à Suécia, o papa recordou também a necessidade de curar as feridas do passado, de empreender um caminho comum. Esse diálogo é possível e demonstra-o o exemplo do histórico encontro em Cuba entre o Santo Padre e o Patriarca Kirill de Moscou, lembrou D. Jurkovič.

Paz, justiça e perdão são complementares
Por fim, o representante vaticano recordou os múltiplos esforços do papa em favor da promoção da paz no mundo inteiro. «Paz, justiça e perdão são reciprocamente complementares: não pode haver paz sem justiça, nem verdadeira justiça sem perdão», expressa Francisco. (RL)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

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