segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

O outro diário adolescente da II Guerra - Renia Spiegel

Conhecemos bem o Diário de Anne Frank, que morreu no campo de concentração de Bergen-Belsen em 1945, mas ainda não lemos o de Renia Spiegel, executada aos 18 anos numa pequena cidade da Polónia. 
Até aqui só estava editado em polaco, em breve chegará às livrarias em inglês. 
A Smithsonian publicou um excerto — a Segunda Guerra outra vez em direto e na primeira pessoa.
Há quase 70 anos Renia Spiegel escreveu a última entrada no seu diário. São três parágrafos em que esta jovem polaca, judia, se dirige à mãe, de quem acaba de receber uma carta com uma fotografia, e a Deus. “A polícia do ghetto judeu veio na noite passada. Ainda não pagámos tudo. Oh! Por que não pode chover dinheiro? Afinal, é a vida das pessoas. Chegaram tempos horríveis. Não imaginas quão horríveis, mamã. Mas Deus toma conta de nós e, embora eu esteja terrivelmente assustada, confio Nele.”

Nesse mesmo dia, 25 de Julho de 1942, já à noite, Renia parece despedir-se, como se pressentisse que o fim não tardava: “Meu querido diário, meu bom e adorado amigo! Passámos por tempos aterradores juntos, mas agora enfrentamos o pior dos momentos. (...) Escuta, Israel, salva-nos, ajuda-nos. Protegeste-me das balas e das bombas, das granadas. Ajuda-me a sobreviver! E tu, minha querida mamã, reza por nós hoje, reza com força.” Seria executada cinco dias depois.

Anos antes, em 1939, quando Renia estava já a viver em casa dos avós na pequena cidade de Przemysl, e a irmã sete anos mais nova, Ariana, estava de visita, tinham ficado separadas da mãe. Com a Polónia dividida entre russos e alemães, acabaram por ficar em lados opostos da “fronteira” que o arranque da Segunda Guerra Mundial desenhou a régua e esquadro. Róza, que se mudara com Ariana para Varsóvia para que a filha pudesse seguir uma carreira no mundo do espectáculo (chamavam-lhe a “Shirley Temple polaca” por se ter estreado em palco aos oito anos, cantando, tocando piano e recitando poesia), permanecera na capital, território sob ocupação nazi.

A primeira entrada do diário
“Por que razão decidi começar um diário hoje? Aconteceu alguma coisa importante? Não! Eu só quero um amigo. Alguém com quem possa conversar sobre as minhas preocupações e alegrias do dia-a-dia. Alguém que sinta o que eu sinto, que acredite no que digo e nunca revele os meus segredos”, começa por escrever, a 31 de Janeiro de 1939, esta jovem polaca que sonhava ser professora e conhecer o mundo. Tinha apenas 15 anos. Menos de três meses antes, a começar a 9 de Novembro de 1938, uma onda de violência anti-semita tinha atravessado a Alemanha, a Áustria e a República Checa. Durante 48 horas, centenas e centenas de sinagogas, escolas, lojas e casas que pertenciam a cidadãos judeus foram destruídas. Aquela que ficou conhecida como a Noite de Cristal acabaria com quase cem judeus assassinados, muitos deles espancados nas ruas, e com mais de 20 mil deportados para os campos de concentração.

No Verão de 1941, Renia fala, assim, do que sente ao ter de usar a braçadeira branca com a estrela de seis pontas, eficaz contributo para a violenta discriminação dos judeus na Polónia ocupada pelas forças alemãs: “Para ti eu continuarei a ser a mesma Renia, mas para outros tornar-me-ei inferior: uma rapariga usando uma braçadeira branca com uma estrela azul. Serei uma judia.”


Com o começo da guerra descreve a criação do ghetto em Przemysl, onde é obrigada a viver, e a deportação de membros da sua comunidade. Dia 15 de Julho de 1942: “Lembra-te deste dia; lembra-te bem. Contarás às próximas gerações. Desde as 8h de hoje que nos fecharam no ghetto. Agora vivo aqui. O mundo está separado de mim e eu estou separada do mundo.”





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