Com ênfase no vermelho ("cor da vida"), regras de jejum mais rigorosas e missas à capela, os ortodoxos festejam a data de forma algo diferente de católicos e protestantes, mas o núcleo comum é sempre a ressurreição de Jesus Cristo.
Para o padre beneditino Marianus Bieber, um ponto da fé cristã é bem claro: "O cristianismo começa com a vivência da Páscoa, porque no centro dela está, naturalmente, a ressurreição de Jesus Cristo." Nessa nova vida, após a morte na cruz, afirma o padre, reside o núcleo da fé cristã, e nela está a nossa própria ressurreição.
"Trata-se de um símbolo da vida eterna, o objetivo da vida segundo a concepção cristã. Cristo não morreu apenas como homem, mas como Deus-homem, ele venceu a morte na morte e a superou. Esse é o significado central da Páscoa", enfatiza abade do mosteiro de São Maurício e São Nicolau em Niederaltaich, no leste da Baviera, em conversa com a DW.
A antecessora histórica da Páscoa cristã é o Pessach, a Festa da Libertação judaica. Segundo a tradição, nesse dia os judeus celebram o momento em que Deus libertou seu povo do cativeiro no Egito. Antes da partida, Deus ordenou aos hebreus que untassem seu umbral com o sangue de um cordeiro sacrificado. Onde não se encontrasse tal sinal na porta, o primogênito da família era morto. Desse modo, as famílias egípcias foram punidas.
Festa das festas
Nas Igrejas ortodoxas cristãs, essa história permaneceu viva, encontrando expressão simbólica especial na cor vermelha, como explica Irinikios Schulten, arquidiácono dos ortodoxos russos na cidade de Bad Honnef, próximo de Bonn.
"Por isso, todos os ovos de páscoa ortodoxos são vermelhos – cestas gigantescas cheias de ovos vermelhos. As pessoas sempre perguntam: 'E onde estão as outras cores?' E eu digo: 'Para que outras cores? O vermelho é a cor da vida.' O sinal nas casas a serem poupadas da punição divina se transformou no símbolo da própria vida.
Schulten lembra que a Páscoa é muito mais do que uma simples comemoração. Solene, ele cita a definição transmitida pela tradição: "É a festa das festas, e o Rei dos dias." Os ortodoxos – que somam 1,5 milhão de fiéis na Alemanha – não festejam apenas o Domingo de Páscoa, mas toda a semana após a noite pascal.
Antes da festa, o jejum
Antes da festa, porém, transcorrem os 40 dias de jejum da quaresma. Esse período tem para os ortodoxos um significado muito maior do que para os católicos ou protestantes. Eles não apenas seguem as regras do jejum com muito mais rigor, como também se preparam religiosamente para o período de abstinência, segundo explica Johannes Oeldemann, diretor do Instituto de Ecumenismo Johann Adam Möhler, em Paderborn.
"Na liturgia ortodoxa, há um período de pré-jejum, para preparação gradual ao jejum. Coloquialmente, alguns desses dias até recebem um apelido, por exemplo: o 'dia da abstinência de carne' ou o 'domingo sem laticínios'."
Apesar das regras de jejum mais rigorosas, a época traz uma conotação positiva na Igreja Ortodoxa, afirma Oeldemann. "A perspectiva do mistério pascal, a esperança de ressurreição, é sempre mantida viva", diz. Ele compara o sentimento dessas semanas antes da Páscoa à época do advento, que para católicos e protestantes é a antecipação do Natal.
A atmosfera pré-pascal é quase palpável no mosteiro de Niederaltaich. Aqui, a Páscoa é celebrada de acordo com os rituais ortodoxos, e sete dos 30 monges católicos também realizam o jejum segundo as regras ortodoxas: durante o dia, não comem nada, e passam 40 dias sem carne nem peixe.
Cantos polifónicos em latim
Desde a quaresma, o clima de festividade já toma conta do mosteiro no leste bávaro. "Todo o caráter dos cultos se transforma", relata o abade Marianus Bieber. Os monges celebram várias missas, acompanhando-as com canto polifónico.
Diferentemente do habitual, em Niederaltaich os corais são cantados em alemão e latim. "O latim é uma língua que se presta muito ao canto dos hinos, e há muitos hinos relativos à quaresma e à Páscoa", explica Bieber.
Algumas dessas missas – nas quais não há órgão, apenas o canto dos monges enche a catedral – chegam a durar quatro horas. Na época pascal, elas são frequentadas tanto por ortodoxos como por não ortodoxos. Numerosos visitantes vão todos os anos à abadia para assistir às celebrações em alemão segundo o rito ortodoxo.
Contagens de tempo distintas
Raramente a Festa de Páscoa ortodoxa coincide com as demais confissões cristãs, como ocorreu em 2014. As Igrejas seguem calendários distintos: a ortodoxa se orienta pelo calendário juliano, introduzido pelo imperador romano Júlio César. Já católicos e protestantes seguem o gregoriano, atualmente adotado em todo o mundo. Ele deve seu nome ao papa Gregório XIII, que o introduziu no final do século XVI.
O mosteiro de Niederaltaich também adota o calendário gregoriano, embora lá se celebre a Páscoa segundo o ritual ortodoxo. O teólogo Johannes Oeldemann ressalta que combinações como essa são relativamente frequentes.
"Há outros ortodoxos que se orientam pelo calendário gregoriano, como na Finlândia, enquanto, em contrapartida, há regiões em que os católicos celebram segundo o calendário juliano, para manter a unidade com seus irmãos e irmãs ortodoxos", explica Oeldemann. Isso ocorre, por exemplo, na Ucrânia, em Israel e na Palestina. A origem religiosa e o significado da Páscoa, contudo, é igual para todos os cristãos.
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