Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, tornada pública esta quarta-feira, o Papa elenca as diversas formas de escravatura que ainda existem nos tempos modernos.
A escravatura ainda existe e urge combater o fenómeno, considera o Papa Francisco. Essa responsabilidade não cabe apenas aos governos, igrejas e organizações internacionais, mas também a cada pessoa e pequena comunidade.
“Perguntemo-nos, enquanto comunidade e indivíduo, como nos sentimos interpelados quando, na vida quotidiana, nos encontramos ou lidamos com pessoas que poderiam ser vítimas do tráfico de seres humanos ou, quando temos de comprar, se escolhemos produtos que poderiam razoavelmente resultar da exploração de outras pessoas.”
“Há alguns de nós que, por indiferença, porque distraídos com as preocupações diárias, ou por razões económicas, fecham os olhos. Outros, pelo contrário, optam por fazer algo de positivo, comprometendo-se nas associações da sociedade civil ou praticando no dia-a-dia pequenos gestos como dirigir uma palavra, trocar um cumprimento, dizer ‘bom dia’ ou oferecer um sorriso; estes gestos, que têm imenso valor e não nos custam nada, podem dar esperança, abrir estradas, mudar a vida a uma pessoa que tacteia na invisibilidade e mudar também a nossa vida face a esta realidade”, conclui o Papa, na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, que foi divulgada esta quarta-feira, apesar de o dia se assinalar apenas a 1 de Janeiro.
Focando a sua mensagem na questão da escravatura, e subordinado ao tema: “Já não escravos, mas irmãos”, o Papa explica que para além de existir ainda escravatura no sentido concreto do termo, há outras formas de exploração do homem que se encaixam na mesma categoria.
“Penso em tantos trabalhadores e trabalhadoras, mesmo menores, escravizados nos mais diversos sectores, a nível formal e informal, desde o trabalho doméstico ao trabalho agrícola, da indústria manufactureira à mineração.”
Os migrantes, um sector a que o Papa se tem dedicado tantas vezes desde que assumiu o cargo, são também mencionados, bem como as pessoas que caem em redes de prostituição e exploração sexual, ou as mulheres vendidas para casamento ou casadas à força. As vítimas do tráfico de órgãos, os que são recrutados para combater contra a sua vontade ou simplesmente para servir de pedintes ou comercializar droga, bem como as crianças roubadas para redes de adopção internacional e todas as vítimas do terrorismo, em particular as mulheres abusadas, merecem uma referência especial de Francisco.
Esta exploração do homem pelo homem tem várias causas imediatas, diz o Papa, incluindo as guerras, a pobreza e o desejo de escapar à indigência, que pode levar a cair em redes de tráfico, e só é possível porque “no centro de um sistema económico, está o Deus dinheiro, e não o homem, a pessoa humana.”
Mas existe uma causa mais profunda, que está na raiz de todos estes males: “uma concepção da pessoa humana que admite a possibilidade de a tratar como um objecto. Quando o pecado corrompe o coração do homem e o afasta do seu Criador e dos seus semelhantes, estes deixam de ser sentidos como seres de igual dignidade, como irmãos e irmãs em humanidade, passando a ser vistos como objectos.”
O Papa não termina a sua mensagem sem aludir ao trabalho que já é feito por inúmeras organizações, incluindo várias congregações femininas que se dedicam de forma especial ao combate à exploração humana.
in rr.sapo.pt
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