Pediatras defendem as medidas de higiene para evitar pandemia...
Com oito anos, Madalena começou a sentir-se constipada, espirrava e doía-lhe a garganta. À noite, adormeceu a chorar porque não queria morrer com gripe A, conta a mãe Bianca Oliveira."Já lhe tínhamos dito quais os sintomas e ela achava que tinha todos", justifica a mãe, gerente de uma loja, em Lisboa.
Com oito anos, Madalena começou a sentir-se constipada, espirrava e doía-lhe a garganta. À noite, adormeceu a chorar porque não queria morrer com gripe A, conta a mãe Bianca Oliveira."Já lhe tínhamos dito quais os sintomas e ela achava que tinha todos", justifica a mãe, gerente de uma loja, em Lisboa.
António, de dez anos, recusa-se a apertar a mão aos amigos e foge dos que tossem ou espirram, revela a mãe, Alzira Gomes, desempregada, que está preocupada por o filho não querer ir para a escola para não ficar doente.
São muitas as informações e regras que pais e professores estão a dar aos mais pequenos para prevenir a gripe A, mas não estarão, pais e professores, a educar crianças fóbicas e egoístas?
Os psicólogos temem que sim, os pediatras dizem que não haverá tempo para isso porque se trata de uma situação passageira. O importante, concordam todos, é agir com bom senso, em casa e nas escolas, sem desvalorizar que se trata de uma pandemia, independentemente da gravidade com que atinge as pessoas.
Há um "excesso de 'proteccionismo' sobre as crianças e jovens, educamo-las em redomas assépticas e protegemo-las dos riscos de forma fundamentalista", considera José Morgado, professor do Instituto Superior de Psicologia Aplicada e responsável por acções de formação parental. Claro que é importante que as crianças compreendam os riscos da gripe A, salvaguarda.
Mas também são importantes as experiências que o pré-escolar proporciona como a descoberta dos materiais, a partilha ou a cooperação entre os mais pequenos, defende. Tudo coisas que devem, nos próximos tempos, evitar.
"Não me preocupa porque será uma situação passageira de meses", responde Luís Pinheiro, pediatra, que considera que as crianças devem adoptar as medidas previstas para evitar a pandemia. "Até agora, os dados disponíveis mostram que o número de casos é grande mas a gravidade é menor do que a da gripe sazonal", informa Paulo Oom, pediatra, que admite que possa haver algum exagero na forma como se está a lidar com esta doença, "como em tudo o que envolve tragédia ou morte".
Sobre as regras, todos os pediatras estão de acordo: trata-se de medidas básicas de higiene pessoal e social que é bom que sejam adquiridas desde cedo.
Mário Cordeiro, pediatra, cita João de Deus: "Mais vale dar ao aguadeiro o que se dá ao curandeiro." "Paranóia securitária""Uma coisa é ensinar comportamentos saudáveis, outra é ensinar comportamentos para fugir de doenças", avalia Helena Marujo, professora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, que considera que com estas atitudes se está a "criar uma geração de gente ansiosa, pessimista e desconfiada", não só por causa da gripe A, mas da pedofilia ou dos problemas ambientais, por exemplo.
José Morgado concorda que a "paranóia securitária" não diz respeito apenas à gripe A. "Não pode brincar na relva porque se suja e também por causa das bactérias", exemplifica. "Aprender emoções negativas para lidar com a vida é uma forma importante de sobrevivência, dentro de limites", mas se esses forem ultrapassados, então as crianças crescerão "cheias de pânico, fantasmas inventados e com imagens dramáticas do futuro", diz Helena Marujo, acrescentando que está provado que as crianças medrosas têm o sistema imunitário mais fragilizado.
"Meninos alegres, confiantes, a rir, a brincar, orgulhosos com eles e com a vida, gratos com o que são e o que têm, curiosos para aprender, são saudáveis, mais criativos para enfrentar problemas e vivem mais", declara.
Por isso, pais e professores devem ensinar os cuidados contra o vírus H1N1 com "a naturalidade de quem ensina a lavar os dentes", recomenda.
Mário Cordeiro admite que, por vezes, a interpretação das regras é feita de modo "desinformado, sensacionalista, levantando fantasmas, o que leva à perda de bom senso e até a situações ridículas". Paulo Oom concorda: "Não partilhar brinquedos parece-me um exagero. Podem optar por retirar temporariamente os brinquedos, mas, se estiverem presentes, as crianças devem partilhá-los." "Os miúdos devem poder continuar a ser crianças. Os adultos é que têm de as ensinar e manter os brinquedos limpos", acrescenta Mário Cordeiro. O problema, adverte Luís Pinheiro, é que ainda se desconhece como vai ser a segunda fase desta gripe.
in Público, 19.09.2009, Bárbara Wong
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