sexta-feira, 4 de outubro de 2019

800 anos depois, islâmicos e católicos relembram diálogo marcante









O início deste ano de 2019 foi marcado por um evento inter-religiosamente importante. O líder da Igreja Católica, Papa Francisco, e o Sheikh da Universidade de Al-azhar, Prof. Dr. Ahmad al-Tayeb, realizaram o Encontro da Fraternidade Humana em Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos, e em consequência disso assinaram o Documento Sobre a Fraternidade Humana em prol da paz e da convivência comum. O documento não se restringiu apenas aos membros das duas comunidades, cujos líderes estavam ali assinando o documento, mas sim a toda humanidade sem nenhuma restrição. Os tópicos principais deste documento tratavam de direitos humanos, liberdade religiosa/fé/crença e sacralidade da vida humana, e condenava-se a barbaridade que das guerras e do terrorismo resulta. Estes, porém, são apenas alguns dos assuntos abordados pelo documento.
Além desta ocorrência histórica, em meio a tantas turbulências e problemas, este ano remete à memória de algum outro marco histórico para ambas as comunidades. Há oitocentos anos atrás, o outro Francisco, que hoje é santo da Igreja, em meio às turbulentas batalhas das cruzadas, cruzou as linhas de guerra e foi ao encontro com o sultão do Egito, al-Malik al-Kamil al-Ayoubi, em 1219. A história é marcante, pois homem sedento de paz e de harmonia foi ao encontro do outro que também era sedento da paz e cansado de ver o sangue dos filhos dos outros. Este evento histórico marcou a amizade de um frade católico e um sultão muçulmano. Esta amizade, segundo o cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, deu a oportunidade de os frades franciscanos até hoje trabalharem no Egito e na região ao redor.
No dia 28 de setembro, as entidades islâmicas Federação das Associações Muçulmanas no Brasil (FAMRAS) e União Nacional das Entidades Islâmicas (UNI), e as entidades representativas dos frades franciscanos Conferência da Família Franciscana no Brasil (CFFB) e a Ordem dos Frades Menores (OFM), realizaram o evento em memória do encontro entre o sultão e São Francisco de Assis na Mesquita da Misericórdia, situada na região de Santo Amaro. O evento iniciou-se com a plantação da Árvore da Fraternidade. Nesta ocasião, os líderes religiosos da comunidade islâmica e das entidades franciscanas plantaram uma árvore de ipê desejando que gere muitos frutos de diálogo e da irmandade junto as suas cheirosas flores. Logo depois, passou-se ao Salão Multiuso da Mesquita, onde aconteceram as palestras, mostras artísticas e homenagens aos líderes religiosos que estavam presentes.
As palestras foram marcadas com as falas de irmã Cleusa Aparecida Neves, frade César Külkamp e Sheikh Muhammad al-Bukai.
A irmã Cleusa, presidente da CFFB, denunciou a falta do diálogo e o autoritarismo que está crescente. O frei César, provincial da Província Franciscana, usou das palavras de Dom Helder Câmara, afirmando que devemos adotar a humanidade toda por família.

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