Há 70 anos, apesar de se encontrar dividido em dois blocos antagónicos, o mundo conseguiu unir-se por um objetivo comum: chegar a consenso sobre a lista dos 30 direitos humanos que devem ser o garante “da liberdade, da justiça e da paz”. Foi possível fazê-lo, em 1948, porque as feridas das duas guerras mundiais e da Grande Depressão ainda continuavam abertas e estavam bem presentes na consciência de todos. De uma forma eloquente e para muitos inimaginável, a Humanidade tinha percebido até onde podia chegar a barbárie, executada de forma racional e planeada, como um desígnio de Estado, perante a indiferença de outros governos e, em muitos casos, com o apoio popular.
Terminada a guerra, com as Nações Unidas a darem ainda os primeiros passos e com o planeta a adaptar-se a uma nova ordem mundial, após terem sido julgados, em Nuremberga, os primeiros crimes contra a Humanidade, a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos tinha uma espécie de carácter de urgência. Era necessário elevar os direitos humanos para um plano global, independente dos Estados e das fronteiras, como instrumento para impedir novas barbáries e, em simultâneo, comprometer todos com esse desígnio.
Embora nenhuma nação possa afirmar, hoje em dia, que cumpre integralmente os 30 artigos da Declaração – que, entretanto, foi assinada por todos os 193 Estados-Membros da ONU –, também é verdade que muito e bom caminho foi percorrido nestes 70 anos. Por mais pessimistas que nos sintamos com tudo o que vamos observando atualmente, não há duvidas de que o mundo evoluiu muito em matéria de direitos humanos nestas últimas sete décadas. Basta lembrar, por exemplo, que, em 1948, os negros continuavam a ser segregados nos Estados Unidos da América, que os gulag eram comuns na União Soviética de Estaline e que o Apartheid era formalmente instituído, nesse mesmo ano, na África do Sul.
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