"Era uma vez uma menina chamada Maria. Tinha onze anos e não era muito bonita. Há meninos que não são.
A Maria também não era muito boa aluna, os colegas tinham sempre melhores notas que ela. E até se esforçava. Às vezes tinha dúvidas, os professores procuravam ajudar mas o tempo não era muito pelo que ainda ficava sem saber algumas coisas. Queria e tentava fazer os trabalhos de casa, mas o pai e a mãe não sabiam ajudar porque tinham andado poucos anos na escola e o irmão era mais novo.
A Maria era uma menina triste.
Um dia a directora de turma perguntou-lhe porque estava assim quase sempre. Escondida atrás de uns olhos grandes, esses sim muito bonitos mas tristes disse baixinho: “Eu nunca tive um bom, nem sequer um bom pequeno. Gostava tanto de ter um”.
Umas aulas depois a professora avisou que a turma teria novo teste.
A Maria, como sempre, ficou assustada mas depois de o fazer ficou mais tranquila, achou que tinha corrido bem.
Quando a professora devolveu os trabalhos a Maria viu escrito em letras gordas, bom, bom grande. Os olhos que já eram grandes, ficaram maiores, até ela se sentia mais crescida.
Os pais contaram aos vizinhos. A Maria podia não ter sempre notas tão altas como outros colegas mas já tinha tido um bom. Um bom grande, aquele bom grande.
A professora também ficou grande. Grande e amiga.
Felizmente os professores sabem que avaliar não é apenas classificar e muitos estão atentos às Marias que nunca tiveram um bom e que muitas vezes se perdem na transparência do anonimato, do destino."
José Morgado
Doutorado em Estudos da Criança.
Autor de diversas publicações nas áreas da qualidade e educação inclusiva e diferenciação pedagógica.
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