Quando, em 1883, Paul Nipkow transformou uma imagem em numerosos impulsos eléctricos, não imaginava que a sua invenção ia mudar o mundo. O jovem alemão tinha iniciado a pré-história da televisão.
As primeiras transmissões de imagens à distância foram conseguidas pelo inglês John L. Baird em 1920. As suas experiências foram melhoradas em 1924. Entretanto, em 1923, Vlademir K. Zworykin, um russo-americano, havia dado o passo seguinte ao inventar o iconoscópio.
As primeiras emissões televisivas regulares iniciaram-se na Alemanha em 1935. Os americanos começaram as transmissões a cores em 1954.
O fabrico de televisores em larga escala começou depois da Segunda Guerra Mundial. Em 1950 havia uns dez milhões de aparelhos a preto e branco. Nesse ano, os telespectadores norte-americanos rondavam os cinco milhões.
A RTP começou a emitir regularmente a partir de 7 de Março de 1957. As emissões experimentais tinham começado em Setembro de 1956 em Lisboa. A cor foi introduzida a partir de 1980.
Um espaço único...
As transmissões televisivas depressa destronaram a rádio como meio de comunicação e de entretenimento. A imagem sobrepôs-se assim ao som.
Graças à TV, foi possível seguir em directo os primeiros passos de Neil Armstrong na Lua, e testemunhar os grandes dramas e conquistas da humanidade.
A TV é barata e está à distância do botão de um comando electrónico. Companheira de quem vive só, é difícil imaginar o dia-a-dia sem a televisão.
O televisor é, de facto, a nossa janela aberta ao mundo. Traz-nos em tempo real imagens dos quatro cantos da Terra. Faz-nos vibrar com os avanços históricos e sofrer com as vítimas de catástrofes. Transforma-nos em cidadãos da aldeia global, vizinhos de todos os povos.
A TV traz para a nossa sala de estar a informação, o espectáculo, o desporto, o comércio, a cultura, a ciência.
Através da televisão conhecemos os mundos mais distantes e as mais variadas culturas. E, graças à TV, tornamo-nos mais solidários e comprometidos com a melhoria do mundo em que vivemos.
... de contrastes
Mas a TV também tem o seu lado negro, apesar de hoje só transmitir a cores.
A caixa que mudou o mundo tem sido usada como um agente privilegiado de globalização. Através da programação e da publicidade impõe padrões de consumo (moda, música, alimentação, valores), dilui culturas e nivela os modos de estar na vida. No fundo, está a americanizar o mundo, porque são sobretudo os americanos que controlam a TV.
A televisão pode ser aberrante: vende tudo, até o mais duvidoso candidato a um cargo político.
Transforma a guerra num jogo virtual, num espectáculo em directo asséptico, sem o cheiro a morte. Recorre ao sexo e à violência para iludir e anestesiar.
Pior ainda, o televisor tornou-se num vício – o televício – , gerando dependentes como a droga e o álcool. Há telespectadores que consomem diariamente horas e horas de televisão.
O televisor ocupa o lugar central da casa e faz concorrência desleal ao convívio familiar. Come-se e descansa-se a ver televisão em conjunto ou cada um em seu canto. A arte da conversa, o gosto pela leitura, a prática de hobbies vão-se rendendo cada vez mais aos encantos coloridos e cintilantes do cinescópio. E estamos a tornar-nos mais gordos, ignorantes, violentos, apáticos, alienados, iludidos por «contos de fadas» em «tecnicolor», reality shows, menos interessados nas coisas simples e profundas da vida. A TV enche-nos os olhos de cor e movimento, mas deixa-nos o coração vazio de afectos.
Como todas as coisas boas da vida, a televisão é para ser consumida com moderação.
O cabo e o satélite vieram alargar ainda mais a oferta. É necessário aprender a ser selectivos e inteligentes nas escolhas dos programas a visionar e rigorosos com os horários que nos concedemos para ver televisão. Afinal, a TV não é o único meio de comunicação. O mais interessante ainda continua a ser cara a cara, de viva voz e em presença real.
Por: JOSÉ VIEIRA, in Audácia, 2002