Gonçalo Beato, 15 anos, aceitou escrever um texto em que mostra aos pais onde é que eles estão a falhar com os filhos da sua geração.
O meu nome é Gonçalo Beato, tenho 15 anos e passei este ano para o 11.º ano. Aceitei o desafio da MAGG e durante duas semanas vou tentar mostrar aos pais, em vários textos, o que vai na cabeça dos filhos adolescentes. Hoje começo com um artigo sobre o que, para mim, são os maiores erros que os nossos pais cometem na nossa educação.
1. Não nos ouvirem quando falamos dos nossos problemas
É muito comum os pais ignorarem os adolescentes quando estes tentam falar dos seus problemas com eles, o que leva a que eles muitas vezes evitem falar de qualquer coisa que os está a perturbar. Os pais podem ter esta reação porque este problema tem a ver com eles, ou eles são mesmo a origem desse problema, e por isso, para eles, é difícil aceitar que possam estar a magoar e a prejudicar o próprio filho.
2. Não ouvirem os nossos conselhos porque acham que sabem mais porque são mais velhos
Este problema está relacionado com o anterior. É muito comum os pais acharem que, por viverem há mais tempo do que os filhos, sabem mais sobre tudo. Claro que eles muitas vezes têm razão, mas é sempre melhor ouvir uma voz diferente da nossa. E eles não se podem esquecer que vivemos num mundo mais tecnológico, em que nós, adolescentes, temos um acesso muito mais facilitado a informação, por isso também conseguimos aprender coisas por nós, e ensinar-lhes coisas a eles. Por isso, nem que seja de vez em quando, eles não devem duvidar de tudo o que nós dizemos, ou acharem que sabem sempre mais sobre todos os assuntos.
3. Não nos incentivarem a ter uma alimentação mais nutritiva
Provavelmente este é o erro que menos pais cometem, mas mesmo assim ainda há muitos a fazer isto. Nós, adolescentes, precisamos de muitos nutrientes, diversificados, para crescermos de forma mais saudável, sem doenças, sem excesso de peso. E, mesmo que de forma não intencional, muitos pais não ligam muito a isto e deixam os filhos comerem o que querem. Acredito que façam isto sem terem a noção de que estão a prejudicar os filhos, mas estão. Acho que os pais deviam ser mais preocupados e exigentes com isto, e ajudar-nos a encontrar um ponto de equilíbrio entre o que gostamos de comer e o que nos faz bem à saúde.
4. Obrigarem-nos a trabalhar demasiado
Este é um problema extremamente comum a quase todos os pais. Muitas vezes, eles sentem que a única maneira de os filhos se sentirem prontos para a vida é estando constantemente a fazer algo, sejam trabalhos relacionados com a escola, tarefas domésticas ou aquelas coisas que só servem para facilitar a vida aos pais. Claro que qualquer adolescente precisa de ter tarefas no dia a dia, especialmente quando estas estão relacionadas com a escola, mas esta deve ser a única grande obrigação de qualquer adolescente. Mas nós também precisamos de aproveitar a vida nesta altura da adolescência, antes de assumirmos as responsabilidades dos adultos, de arranjarmos um emprego que nos vai ocupar o tempo e a energia todos. E é difícil aproveitarmos o nosso tempo quando temos uma quantidade enorme de tarefas para fazer.
5. Não confiarem suficientemente em nós
Isto é recorrente, e não faz sentido, sobretudo quando nós já temos idade para saber o que está certo e errado. Já aconteceu a todos os adolescentes chegarem tarde a casa e serem logo bombardeados com perguntas dos pais, que ficam logo desconfiados e a achar que fomos fazer qualquer coisa errada. Muitas vezes, só chegámos tarde porque as aulas acabaram um pouco mais tarde, ou fomos beber um café com um amigo. Outra coisa é quando pedimos aos pais para irmos a algum lado, como a casa de um amigo. É frequente dizerem que não porque não confiam em nós e acham que não somos responsáveis. Também é muito irritante quando percebemos que o nosso quarto ou a nossa mala foi revistada pelos pais, porque estão desconfiados de alguma coisa. Esta falta de confiança deles em nós também leva a que muitas vezes nós não confiemos neles.
6. Darem-nos pouca liberdade
Isto está relacionado com a falta de confiança e é uma contradição com um argumento que muitos pais usam, o de que nos estão a preparar para o mundo real. Se nos estão a preparar para quando formos adultos, então têm que nos deixar perceber que não devemos ser totalmente dependentes dos nossos pais. A melhor maneira de fazerem isto é darem-nos um pouco mais de liberdade. Obviamente que deve ser uma liberdade com limites, mas é alguma liberdade. Se estivermos a toda a hora com os pais por perto, se não pudermos fazer nada sozinhos nem tomar decisões sozinhos, o resultado pode ser o contrário daquilo que eles dizem que querem, que é o de nos prepararem para a vida real. E acho que esta atitude pode causar um distanciamento entre os adolescentes e os pais.
7. Não nos darem uma mesada ou semanada
Para os pais isto pode não parecer um grande problema, mas o que sentimos é que ao não termos dinheiro para gerir no dia a dia isso também nos limita o conhecimento do mundo dos adultos. Se passarmos a adolescência toda a pedir dinheiro aos pais para tudo e mais alguma coisa vamo-nos sentir sempre dependentes. Dar uma mesada ou uma semanada a um filho é uma maneira boa de o ensinar a gerir o seu próprio dinheiro, gerir as suas compras, e até de o fazer sentir-se mais independente e responsável.
8. Insistirem na ideia de que a escola é a coisa mais importante do mundo
Este erro está relacionado com outro, o de os pais obrigarem os filhos a terem demasiadas tarefas. Apesar de a escola ser a maior e mais importante obrigação de qualquer adolescente, os pais não se podem esquecer que a vida, enquanto não se tem um emprego, deve ser aproveitada pelos filhos. Tornar a escola no único foco dos adolescentes é torná-los mais antissociais, mais tristes, até. Por exemplo, quando um filho tem uma negativa, que é uma coisa normal que pode acontecer a qualquer aluno, muitos pais fazem disso um grande drama, como se a escola fosse a única coisa que lhes importa na vida.
9. Fazerem chantagem connosco
Este é um erro comum que os pais cometem com os filhos desde que somos pequenos, logo desde quando nos começam a dizer que não podemos comer sobremesa se não acabarmos o prato principal. E isto vai sendo cada vez pior até à adolescência. Agora, a nova estratégia de chantagem é dizer que o filho não pode usar tecnologias ou não pode sair com amigos se não fizer uma tarefa doméstica num exato momento (quando o pode fazer mais tarde) ou acabar um trabalho de casa que se tem de entregar na semana a seguir. Muitos pais pensam que a chantagem ajuda a motivar os adolescentes a trabalhar mais, e a serem mais responsáveis, mas não. Se eles não são suficientemente responsáveis para cumprir com as suas obrigações, fazer chantagem não lhes vai ensinar nada. Se o adolescente já for, por natureza, responsável, e quiser adiar uma tarefa para ir fazer algo para se divertir, este merece uma recompensa, e não a típica resposta: “Não estás a fazer nada mais do que a tua obrigação.”
10. Compararem-nos aos filhos dos outros
Para nos explicarem como se deve ser num dia a dia perfeito, muitos pais comparam-nos com os filhos dos colegas deles, ou com outros adolescentes. Esta estratégia raramente funciona. Os filhos devem ser apenas comparados com eles mesmos, mesmo sendo no passado, e compararem-nos com outras pessoas pode mesmo deixar-nos deprimidos, a achar que os pais preferiam ter outro filho. Pior: isto também pode levar a que passemos a odiar a pessoa com quem estamos a ser comparados. Por isso, vale muito mais a pena ensinar o filho como ele deve ser, em vez de usar uma pessoa como base para isso.
27/6/2018, 16:25 Daqui
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