quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal: "A palavra é uma pessoa"


O Natal é a memória do Nascimento de Jesus.
Depois da Sua morte e ressurreição, os primeiros cristãos procuraram aprofundar e compreender o que é que Jesus Cristo significava na história religiosa do Povo de Israel e na história de toda a Humanidade. O apóstolo São João diz que Ele é o Logos, isto é, a Palavra eterna de Deus, proclamada de forma definitiva e em linguagem humana: "E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós." (Jo. 1,14)

Os crentes de Israel conheciam há muito a força da Palavra de Deus: ela foi criadora, porque para criar a Deus bastava dizer, pronunciar a Palavra; ela interpretou acontecimentos e desvendou o sentido profundo da História, quando revestiu a forma da palavra profética; ela abriu para o segredo da intimidade de Deus, porque Deus disse-Se a Si Mesmo. Mas não tinham percebido que a Palavra divina era pessoa.

Esta é uma das surpresas do nascimento de Jesus. Compreendemos facilmente que as pessoas falem; mas a identificação entre a Palavra e a Pessoa é uma surpresa maravilhosa. Há momentos da nossa vida em que tocamos essa densidade de nos identificarmos com a nossa palavra, por exemplo, numa palavra de amor, sincera e comprometida. Quanto menos a pessoa se identifica com a palavra que pronuncia, menos significativa ela é, porque revela apenas uma parte de si mesma. Deus diz-Se todo em cada palavra que pronuncia; a Palavra revela-O totalmente e tem o Seu poder de criar, de amar, de nos conduzir à Verdade. Se Deus fala, a sua Palavra só pode ser a Pessoa divina.

O facto de a Palavra se identificar com a Pessoa transforma a maneira de escutar. Não é a mesma coisa escutar uma ideia, que eu posso rejeitar ou discutir, e confrontar-me com alguém que se expõe totalmente em atitude de amor. Rejeitar essa pessoa é mais grave do que rejeitar uma ideia.

Cristo, Palavra eterna de Deus, expôs-se totalmente aos homens com o dom total da própria vida. Eu posso, porventura, discutir o Evangelho como doutrina; mas rejeitar Jesus Cristo que me atrai na radicalidade do dom da sua vida por mim é mais difícil e mais grave quando acontece. Foi a experiência de Paulo na Estrada de Damasco.

Cristo não é só um profeta que falou; Ele é, para sempre, a Palavra que é preciso escutar, num encontro de fé e de amor. Escutá-l’O abre espontaneamente ao amor, ao compromisso, é como se nascêssemos de novo. Todas as palavras que disse, todas as palavras que se disseram sobre Ele só são importantes se nos levarem ao encontro com Ele, que é a Palavra. E esse encontro gera em nós o desejo de nos identificarmos com as palavras que dizemos, é um desafio de verdade e de autenticidade. O testemunho cristão, palavra escrita com a vida, foi ao longo dos séculos o momento em que os que escutaram a Palavra que Cristo é se identificaram com a palavra que testemunham e que exprime a sua vida. Não é por acaso que o testemunho mais eloquente foi o martírio.

No Natal somos convidados a meditar sobre a nossa relação com as palavras, as que dizemos e as que escutamos.

24 Dezembro 2008 - 00h30
D. José, Cardeal-Patriarca

1 comentário:

Unknown disse...

Amiga tem um presente para levar no meu blog.
Feliz Natal
Maunela

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